Por Ricardo Ribeiro
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, moralmente, não tenho nenhum apreço pelas leis institucionais; mas não sou incauto a ponto de perder essas linhas tentando persuadi-los quanto às maravilhas de uma sociedade de pessoas iguais – mesmo porque muitos já escreveram, cantaram discursaram e protestaram. Esse apelo é endereçado aos senhores que são encarregados de trabalhar com as leis, e a favor delas.
Comecemos então de baixo pra cima, ou melhor, de dentro pra fora. Há muito nosso sistema educacional está decadente. Apesar dos números institucionais mostrando evoluções, são as aberrações que assistimos nos telejornais o principal indicador dessa decadência. Quantas vezes ouvimos casos de agressões a professores por parte dos alunos? Eu que sai há pouco tempo da sala de aula sou testemunha dessas agressões – não físicas. Os alunos estão se perguntando: quem é esse pra me ensinar? Professor não é mais a fonte da moral e da educação das crianças. O professor perdeu seu espaço de educador para a mídia.
Por conseqüência, o que temos, por efeito-dominó, é a falência de instituições como presídios, polícias e das leis. Tudo em favor de uma nova ordem em que a liberdade é confundida com libertinagem irracional e autodestrutiva. Uma nova ordem em que as pessoas são transformadas em uma massa de compradores compulsivos e insensíveis. E não estou falando apenas de nosso amado país, Brasil. O que me deixa realmente consternado é que essa ordem é mundial – me atrevo a dizer que seja um vírus disseminado pela globalização.
Falando em mundo, estamos frente a mais uma crise financeira. Ouço rumores de desemprego em larga escala, empresas de tradição falindo, medidas que não funcionam, calotes, números negativos, e por aí vai... O caos econômico está instaurado e batendo na porta de mansoes mundo a fora. Ouso até especular que a crise é um fator que causou as guerras no Oriente Médio durante o governo Bush, ou, mais atual ainda, o conflito entre Israel e Palestina – afinal o que foi feito com os brinquedinhos da Guerra Fria?
Especulações à parte, o mundo está mesmo estranho. E ao que parece, não estou chegando a lugar nenhum. Bem, eu vejo essa crise toda com certo ar de otimismo. Creio que alguns dividem esse sentimento comigo. Essa crise talvez atinja o capitalismo tão profundamente, a ponto de derrubar a hegemonia dos “países do norte”. E nós, países em desenvolvimento poderemos ou cair junto, ou abrir caminhos para uma nova ordem econômica mundial. Pra isso devemos, em primeiro lugar, cortar as relações de dependência submissa com o capitalismo antigo. Carros de luxo, celulares de última geração, tecnologia inútil, enfim, produtos exageradamente supérfluos, que ao invés de garantirem um conforto sustentável, cavam ainda mais as diferenças sociais. A África precisa de comida, não de computadores rápidos. Países populosos como Índia e China, que expandem sua economia a toque de caixa precisam alimentar seus trabalhadores, precisam de casas, de medicamento, de educação.
Estou apelando, senhores, para um mundo mais humano. Um mundo que não perde tempo com futilidades ou gastos de energia inúteis. Não há sentido em se gastar milhões para lançar um foguete que vai matar pessoas, ao invés de gastar com qualidade de vida. Não há sentido na propaganda de uma cultura consumista para pessoas que nem o que comer têm.
Por isso, meus senhores, vamos arrumar nossa casa. “Uma coisa puxa a outra” é minha opinião – e de um grande poeta também. Quão desvalorizado e decapitados estão nossos educadores! Eles não merecem o salário de fome que recebem, só porque não fazem nada caro para ser pago com dinheiro. Não merecem insultos e agressões físicas, só porque tentam cumprir com a função de educar nossas crianças. Não merecem ser considerados inúteis. Precisam de preparo, suporte, reconhecimento. São a base para esse novo futuro. Assim sendo, além de profissionais mais bem preparados, teremos mais seres humanos preocupados com suas condições sociais, menos presidiários, menos crimes, menos policia, menos violência – quem sabe, sonho eu, um dia não precisemos de leis. Uma educação que crie subsídios para a construção de seres individuais; não massas, não ambições egoístas. Uma educação para um mundo em que nos aproximemos uns aos outros, um mundo de comunicação, descoberta e respeito dos seres individuais e plurais que somos.
Com afeto,
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