
Modelos, atrizes, poses, flashes.
A maquiagem borrada nunca é vista, os pés calejados não existem, as mãos frias tentam se esquentar no estúdio gelado.
O furinho do meu queixo eu preciso tapar. As sardinhas? Tenho que deletar.
No olhar triste e vazio eu passo um corretivo, na boca pálida e seca tem lápis de cor, a cute cansada e cheia de suores é apagada com o "photoshop", nas maçãs há apenas a carcaça toda devorada, o sorriso já não é um sorriso, são grades das quais nada se pode sair.
Essência, perfumes, saliva...
Essas ficam bem ali, no cantinho escuro, espumando para serem expelidas a qualquer momento.
A garganta, com sede, grita para que alguém a ouça, mas não adianta.
Eles só ouvem a voz do capitalismo faminto e excêntrico repetindo a mesma coisa sempre: beleza, beleza, beleza!!!
Ufa! Acabou! Meus poros suados não vêem a hora de respirar, minha boca de encontrar outra, e minhas mãos de se esquentarem segurando as suas no fim da noite.
Kiko Pessoa disse...
Pra quem não conhece, essa escritora chama-se Luana Mollinar. Adoro Lê-la!!
Kiko Pessoa disse...
Pra quem não conhece, essa escritora chama-se Luana Mollinar. Adoro Lê-la!!
Um comentário:
Abismo
Olho o Tejo, e de tal arte
Que me esquece olhar olhando,
E súbito isto me bate
De encontro ao devaneando —
O que é sério, e correr?
O que é está-lo eu a ver?
Sinto de repente pouco,
Vácuo, o momento, o lugar.
Tudo de repente é oco —
Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo — eu e o mundo em redor —
Fica mais que exterior.
Perde tudo o ser, ficar,
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar
Ser, idéia, alma de nome
A mim, à terra e aos céus...
E súbito encontro Deus.
Fernando Pessoa
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